Sunday, August 30, 2009

ESPAÇO PARA ESCREVER









Para o escriba dar largas à imaginação - quando esta não lhe falta ou a musa não se faz de rogada - o espaço onde se colocam as letras é fundamental. Não precisa ser uma vasta área onde o negócio do imobiliário floresça como por artes mágicas e encha as contas bancárias daqueles que tudo sacrificam para que não fique de pé um único deserdado da sorte sem habitação, ou tão pouco, nas antípodas, uma nesga de terreno onde cresçam em sintonia, batatas, cebolas e nabiças para consumo próprio dum cidadão prevenido. A imagem de hoje, em que dos pés dos anónimos transeuntes, preocupados em atravessar a avenida antes que se esgote o tempo do sinal verde-dos-peões-com-esperança-em-sinais-melhores, até ao limite inferior da foto, creio ser o exemplo-modelo da extensão de vazio onde tanto se pode escrever um livro de poemas excêntricos como a história concêntrica de um país à procura da sua identidade e sem um polícia por perto para lhe indicar a localização do edifício de perdidos & achados. Hoje (há dias assim), sinto não ter aproveitado em pleno - cobrindo-o de palavras impossíveis - o chão da avenida que tive à disposição . Talvez os leitores que por aqui passam, o queiram acabar de preencher sem recear os sinais.
2009.Texto e foto de Alberto Oliveira.

Thursday, August 20, 2009

O SINAL







Uma pessoa bem pode querer fazer uma pausa para coordenar ideias, passar um vocábulo para um sítio que lhe parece mais agradável à vista ou substituir um ponto de exclamação por reticências... mas é daqueles dias em que os dedos correm pelo teclado sem pedir licença à mente qual dança frenética onde as letras formam palavras sem dificuldade aparente devorando o espaço em branco que lhes surge pela frente compondo textos de nexo duvidoso e libertas de esquemas enxertados em corno de cabra como se nunca tivessem feito outra coisa na vida (sabemos perfeitamente que as letras têm outros e múltiplos afazeres muito mais formais(?!) que estes de contarem histórias sem pés nem cabeça ou contos mutilados de pernas e peitos... ) e quando tudo, mas tudo!, em plena liberdade de escrita se encaminha para o final que irá surpreender pela enésima vez os leitores com oh´s! de espanto e ah´s! de incredulidade, ZAKE!: sinal vermelho aceso e pára tudo minha gente!
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Acontece aos melhores - onde me situo, naturalmente : depois de um mês de paragem por razões que nem eu próprio consigo explicar, o raio do semáforo corta-me a verve. Mas, optimista que sou, não perco a compostura. Pior seria se me cortasse uma outra coisa pequena e magra mas que não dispenso: o subsídio de desemprego.
2009. Foto e texto de Alberto Oliveira.