O TEMPO VIGIADO
Vigiando as águas vigio o tempo filtrado em areias finíssimas de praias paradisíacas anunciadas por agências de viagens que me vendem sonhos que dificilmente se cumprem em tempo real. Sonho com agências de viagens viajando a preços desde e acabo por viajar com preços acima de. Vigio a bagagem até onde é permitido aos meus olhos acompanhá-la antes dela me apartar e, por cada mala perdida, fico mais pobre de uma amiga chegada. Ao vigiar a água que me lambe os pés reconheço que não é tão azul marinha ou verde mar como a que os folhetos prometem: as mais das vezes é amarelada tal como a das imagens desses folhetos, queimados pelo sol de agostos passados. Dos banhos, não sei o que mais vigiar: se a multidão que se banha ou a multidão que me desaba em cima com o banho por tomar. Por um destes dias - acrescentada mais uma hora de claridade a cada um deles por força de um relógio que constantemente vigio, estarei a caminhar sob a areia húmida de uma qualquer praia hoje imaginada, na expectativa de que, pelo menos, a cor das bandeiras não amareleça e me confunda, como a dos folhetos de viagens expostos ao sol dum outro estio. Mas nem tudo são más notícias: a temperatura voltou a cair para valores mais baixos e acorda-me para a realidade. A de ter ainda mais algum tempo para voltar ao assunto.
2009. Texto e foto de Alberto Oliveira.