Wednesday, January 28, 2009

PROJECTO PARA UM QUASE BEIJO











Se há imagens que se podem prestar a alguns equívocos ou levantam questões mais ou menos interessantes esta é uma delas. Devo desde já esclarecer que não se trata de uma montagem, porque fotografei o casal no mesmo momento e aquilo que num primeiro relance parece ser um parzinho enamorado que de olhos cerrados prepara um doce beijo, não o é. Mostrei-lhes a foto logo depois de os fixar na digital, acharam o resultado surpreendente, riram-se ainda mais que eu próprio - o que é estranho, e autorizaram-me a sua publicação. Ela nasceu em Montpelier, dá pelo nome de Dafne, iniciou recentemente a sua ligação ao mundo da moda e confessou-me com a cara mais séria deste mundo e revirando os olhos, que gostaria de ter uma carreira semelhante à de Kate Moss na versão mais hard. Ele, Filippo Orsini é natural de Castel Maggiore - uma comuna da província de Bolonha, é professor de esperanto em Kuala Lumpur e um ambientalista convicto, colaborando regularmente com a Greenpeace (nos meses terminados em "a") em acções de protesto contra os caçadores de papa-formigas no deserto de Sonora (Baixa Califórnia). Quis o destino que eu estivesse atento, quando os dois se cruzaram naquele dia, muito próximos um do outro mas em planos diferentes, daí a ilusão de óptica. Ela - em primeiro plano, assobiava para o seu caniche que ladrava nervosamente para um outdoor que publicitava costeletas de porco enlatadas e ele, emocionado, estava a centímetros de beijar a única árvore ainda existente na longa avenida novaiorquina.
2009. Texto e foto de Alberto Oliveira.

Wednesday, January 21, 2009

DE NOITE TODOS OS RECEIOS SE CONFUNDEM








sabes como detesto passar a estas horas por ruas tão escassamente iluminadas sem sinal de gente e ficar com os nervos em franja por estar sempre na expectativa que nos aconteça o pior lamentava-se ela sem grande convicção porque ele com aquele meio sorriso que lhe fazia lembrar vagamente o jude law depois de um fim de dia passado a amarem-se tão tântrica e dramaticamente que três horas na cama bem se podiam confundir com dois minutos do resto das suas vidas acabava por a convencer vá lá veste qualquer coisa e vamos desafiar a noite e os nossos ancestrais receios do escuro entrando depois pela negritude que há muito deixara de ser criança ele respirando confiança mas com um olho na ferradura e outro na noite negra e ela branca de medo tremendo agarrada a ele como uma lapa e temerosa que lhe ficara para sempre gravada na memória aquela vez em que um homem enorme de naifa pequena em riste numa mão e na outra um naco de pão clamando por umas rodelas de chouriço lhes passou rente sumindo-se logo a seguir no interior da escuridão e o pavor foi tão grande que ela não se conteve e molhou as calcinhas mas chegados a casa fizeram amor como nunca tinham feito e ele olhando-a bem para dentro dos seus olhos verdes de esperanças adiadas sossegou-a como o receio te estimula amor e te faz tão bonita resplandecente mesmo acredita género cate blanchette reconfortada ela nem o deixou continuar e a ti o que mais te excita perguntou-lhe com os olhos marejados de lágrimas não ter feito pontuação neste texto por exemplo respondeu ele

2009. Texto e foto de Alberto Oliveira.

Tuesday, January 13, 2009

CONTRADANÇA

Defensor fervoroso da dança, mau grado o volume da pança, com desembaraço dificilmente acertava um passo. Não distinguia o mambo do tango e pasme-se! até, o cha-cha-cha do café-café. Maneava a cabeça qual salamandra, desconhecia o golpe da perna malandra. Enfim, mexia os pés assim, sem eira nem beira, qual galo doido preso em capoeira. Sem requebro de anca, mas a grande panca que tinha pela dança, morava plena no seu coração. Sózinho, era o rei do salão.

2009. Texto e vídeo de Alberto Oliveira. Música: "chilloutxis"

Wednesday, January 07, 2009

O HOMEM DO PÉNIS AZUL...

... não seria personagem relevante para figurar neste primeiro texto do novo ano, não fosse ter sido visto - por populares bem agasalhados, nas proximidades do Mosteiro dos Jerónimos, no estado que a imagem documenta. Porque na verdade, estivesse o cidadão composto (que é como quem diz, vestido) ninguém se daria ao trabalho de tentar adivinhar a cor do tal apêndice. E quase me atrevo a afirmar que nem sequer fariam reparo no seu olho direito, também azul, porque sabemos de fonte segura que um olho nu vale o que vale, mas um pénis despido já se presta a considerações mais aprofundadas ou até, quem sabe, científico-valorativas. O homem em causa, para além da ausência de vestes, apresentava o corpo retalhado, da alma não havia sinais visíveis e no rosto uma indescritível máscara de espanto. Um lisboeta mais afoito chegou mesmo a interpelá-lo «... se devido à sinalética-cromática-corporal não seria um monárquico convicto perdido no tempo?». O nosso homem nem se dignou responder, continuando a sua marcha quase automatizada e o olhar perdido em frente na direcção do Centro Cultural de Belém.. Dizem os que já lá foram, que é a última aquisição de Berardo e tem o título "Futebolista sem chuteiras".
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O prometido é devido. "O Fantasias", ao contrário do personagem do texto acima, apresenta-se a partir de hoje com novas roupagens. Melhoradas, como seria de esperar. O papel é de qualidade superior (acetinado e não suja as mãos dos leitores), às imagens agora só lhes falta falar (estou a tratar disso) e a palavra escrita deve fazer-se ouvir aí. Desse lado. Não?! então é porque falta afinar alguma coisa no som...

2009. Texto e foto de Alberto Oliveira.