A IMPORTÂNCIA das SOMBRAS na CLARIDADE
... é bem claro (?!) que ainda não sei exactamente o que fazer com esta imagem. Que quer dizer o mesmo que, "que texto lhe hei-de juntar logo a seguir ?". Porque se escrever sobre a claridade que vinda do exterior e ultrapassando a porta, se instala na porção visível duma sala aparentemente nua, isso é o que qualquer olhar de relance acaba inevitavelmente por constatar. Ou acrescentar que o cinza-claro do chão é recortado pela mancha da claridade solar exterior, que o verde do relvado é... verde-relva (pois está claro!) , tem algumas peladas pouco agradáveis à vista mais exigente e que... a fotografia fala por ela própria. Nem vale a pena acrescentar que há uma porta metalizada... Só não daria por ela quem se fizesse de desentendido. Ah! eu sabia que faltava qualquer coisa: as zonas sombreadas na reprodução, que não anulam a luz que nela irrompe. Pelo contrário: valorizam-na. Mas subsiste a questão inicial: onde estão as palavras que poderiam com o mínimo de consistência, contar uma história credível referente a esta imagem? Não me ensaiaria mesmo nada, de vos afirmar que, mais à direita da porta, num ângulo que a máquina fotográfica pudicamente não captou, um par de enamorados se beijava loucamente e do lado oposto da sala, uma menina de laços violeta no cabelo, pela mão de uma mulher grande, loira e de vestido amarelo com comboios azuis estampados, olhava surpreendida o quadro enorme na parede, representando uma natureza-morta-absolutamente-defunta. Mas isso seria demasiado fantasioso e não mereceria a vossa compreensão e tempo perdido na leitura.
Serralves, 2006. Texto e foto de Alberto Oliveira.