Thursday, May 24, 2007

DAR DESCANSO ÀS LETRAS E LUGAR À MÚSICA

















Um estudo científico recentíssimo, prova que as letras também se cansam. Não sabiam? eu também não, mas lá diz o senso comum que estamos sempre a aprender e no caso vertente, o saber dá imenso jeito, não permitindo assim que preencha o espaço em branco que tenho à frente do meu apêndice nasal, com repetições pouco estéticas e, penso que nada apreciadas por quem aqui passa à procura de algo surpreendente ou, no mínimo, com alguma substância. Se isso tem sido conseguido (ou não), não me compete afirmá-lo nem tão pouco este é o momento para o escriba que aponta o caminho às letras, reflectir sobre tão delicado assunto.
Em reunião que me solicitaram -com o rótulo de urgente e que se realizou ontem, as letras fizeram-me sentir que estão cansadas e pedem um tempo de repouso. Porque lhes reconheço entusiasmo e espírito de sacrifício no seu labor, acedi. Disseram-me, em uníssono, que voltam assim que estiverem de cabeça limpa(?!). No seu lugar, deixo-vos o Grupo de Danças e Cantares dos Professores de Almada no decurso de uma actuação pública e a sua colorida e folclórica música... na expectativa que os leitores tenham a criatividade de a imaginar.
Almada, 2007. Texto e foto de Alberto Oliveira.

Sunday, May 20, 2007

SINAIS DO TEMPO?
















Proibido voltar à esquerda é o que informa a sinalética dirigida aos cidadãos condutores de qualquer meio de transporte (não vale para o transporte de alguém às cavalitas de outrém, embora sejamos potencialmente veículos condutores de alguma coisa e com poder de mobilidade... ) e que se distingue perfeitamente (há sempre a opção de clicar na imagem para a aumentar, acto que ainda não é extensivo às misérrimas cédulas bancárias de cinco euros, transformando-as de imediato nas algo mais confortáveis notas de cinquenta... ) no passeio à direita da imagem, na confluência das alfacinhas ruas da Conceição e dos Fanqueiros.
Que este tempo-de-Junho-quase-a-espreitar não quer dar sinais de confiança aos adoradores do sol em particular e aos que anseiam por umas férias sem a companhia das águas em geral, a foto -captada há poucos dias, prova-o. De resto, desengane-se quem imaginava o escriba a pretender evocar simbologias quase cabalísticas, associando o código da estrada às posições centro-direita-esquerda do xadrez político da nossa jovem (?!) democracia. Porque um sinal de proibição-de-voltar quer dizer apenas isso. Dar a volta (por cima, de preferência... ) ao estado a que o país chegou, é outra bem diferente. Tão diferente, que a senhora ao lado do sinal de proibição, apenas não atravessou para o outro lado da rua porque o sinal para os peões está vermelho. De timidez, porque substituiu um outro antigo e está a mostrar os seus sinais em público pela primeira vez.

Lisboa, 2007. Texto e foto de Alberto Oliveira.

Tuesday, May 15, 2007

TEXTO SEM SOMBRA DE...

















Aterrorizada pela moto-serra que o homem lhe apontava ao tronco, a árvore levantou instintivamente os braços ao céu e tremendo, conseguiu balbuciar "Mas... o que quer de mim? sabe perfeitamente que não tenho dinheiro comigo e os meus bens partilho-os por todos de igual modo, sem olhar à condição social de cada um... " Não se mostrou particularmente condoído o trabalhador camarário que continuou a avançar, de potente e perigosa lâmina em riste, para o indefeso vegetal lenhoso. "Não tens hipótese nenhuma de te safares minha cara! Eu sei que fazes imenso jeito ao pessoal (até eu já me sentei à tua sombra em dias de grande calor, se bem te lembras... ) mas recebo ordens e nada posso fazer por ti nem pelas tuas amigas que estão a seguir."E dito isto, sem mais delongas, iniciou a sua macabra tarefa.
Da janela do terceiro andar, o brilhozinho nos olhos do meu vizinho Gurmecindo era bem visível. Uma ligeira deficiência no braço esquerdo (que não o impedia de conduzir nem de se deslocar a pé... ) era suficiente para conquistar um lugar marcado para estacionar o carro à porta de casa. Amanhã sem falta, estaria caido na Junta de Freguesia para tratar da papelada. Quando regressei a casa ao fim da tarde, ainda havia manchas de sangue no local onde estivera a árvore.
Algures em Portugal, 2007. Texto e foto de Alberto Oliveira.

Friday, May 11, 2007

ACESSIBILIDADES

















Os quatro quilómetros do primeiro troço do Metro Sul do Tejo -Corroios-Cova da Piedade, foram inaugurados com a pompa e circunstância que estas ocasiões exigem(?!). Rezam as crónicas do primeiro dia (1 de Maio, feriado), em que os potenciais utentes tiveram acesso a este transporte , que as composições andaram bem compostas daqueles que quiseram experimentar de facto o metro de superfície por dentro, em movimento e sem a pressão de um dia de trabalho. No dia seguinte, o MST cumpriu os horários estabelecidos mas sem passageiros. E nos outros dias. E até que o troço mais importante (Corroios-Cacilhas) comece a operar, o que se prevê verificar em 2008... Confrontado com o cenário de transporte sem utentes durante largos meses, o responsável pela exploração do Metro afirmou que "Este troço não tem grande utilidade."...
Com exemplos destes, avisados andaram Grupos de Missão, Associações de Doentes Crónicos do Instestino Grosso e a Concessionária do Projecto EANVML (Evacua Aqui Não Vás Mais Longe), com base no Laranjeiro -freguesia situada entre Corroios e Cova da Piedade, ao promoverem estudos aprofundados sobre a frequência de utilização de um sanitário público, fabricado e testado em Taiwan e com informação digitalizada em português-brasileiro e hebraico. E a promessa de que a estética instalação urbana de premente utilidade fisiológica, apenas entrará em funcionamento quando o número de utilizadores cubra as despesas do papel higiénico, descargas de água e ambientador odorífico.
Almada, 2007. Texto e foto de Alberto Oliveira.

Monday, May 07, 2007

PÔR O NOME AOS BOIS...

















... o que não é o caso, pois qualquer pessoa menos distraida percebe de imediato que não há comparações possíveis entre um barco e um desses animais cornuptos sendo que, pelo que ouvi, até alguns desses -especialmente aqueles que são corridos em espectáculos de rara beleza e sentimentos cristãos, são "baptizados" pelos ganadeiros. Adivinho que alguns de vós franziram o nariz chegados aqui e pensaram "... o homem está equivocado! os bois das corridas, não são bois, são touros." E daí? para mim que não sou especialista, ambos são corpulentos , têm cornos e passemos à frente que a noite vai alta. Ao barco da imagem que faz a travessia Cacilhas-Lisboa-e-volta ("volta" em minúscula porque não é nome de terra, de barco ou de boi: significa "regresso"... ), denominaram-no de "Martim Moniz", aquele que, segundo a lenda, forçou com o próprio corpo uma das portas da cidade de Lisboa mourisca, permitindo assim que as hostes de Afonso Henriques entrassem por ali adentro sem pedir licença aos infiéis. Ainda segundo a história (ou a lenda?!), aquilo foi um ver se te avias de tal modo que Lisboa se expandiu para além do castelo originando grandes dificuldades de gestão aos sucessivos edis que dela foram tomando conta?! até aos dias de hoje.
Perguntarão os estimados leitores: "E que temos nós a ver com isto? Mas que raio de texto é este sem pés nem cabeça, onde os barcos se confundem com bois e os infiéis se assemelham a vereadores?!. Eu explico. Alfredo, aquele que há uns textos atrás foi espezinhado por um cavalo furioso (vim a saber depois, que dava pelo nome de Orlando... ), postado na base escultórica da estátua equestre de Don José, Na Praça do Comércio em Lisboa, fugiu espavorido às arremetidas do equídeo tomando o primeiro barco que lhe apareceu no Cais do Sodré. Que era este: o "Martim Moniz". Satisfeitos?
Almada, 2007. Texto e foto de Alberto Oliveira.

Thursday, May 03, 2007

INICIAÇÃO AO QUOTIDIANO

















... procurando pôr o ar mais inocente deste mundo, perguntei "Isso que tu fizeste é uma casa, Mariana?!" De olhos semicerrados por causa do sol, olhou-me por uns momentos como que procurando adivinhar se eu estava a falar a sério e depois respondeu com outra pergunta "Então não se percebe que é uma casa?!" Zanguei-me de imediato comigo próprio pois não se devem fazer perguntas parvas às crianças e esperar respostas inteligentes. Mas estava escrito que naquele dia estava decidido a fazer ouvidos de mercador à voz da razão. "E porque é que pintaste uma casa e não outra coisa qualquer?" voltei ao assunto. Mariana mergulhou um pincel no recipiente da tinta vermelha, retocou algumas telhas da habitação e retorquiu "Porque quando fôr grande não quero andar a pagar uma casa uma quantidade de anos e que todos os meses me leva quase todo o rico dinheirinho que eu vou ganhar". Depois, assinou o seu nome na folha de papel onde mais tarde iria passar a residir, sorriu e foi à sua vida. Que é como quem diz, à aula de iniciação musical...
Almada, 2007. Texto e foto de Alberto Oliveira.